terça-feira, 22 de maio de 2007

Marcha Fúnebre

Seus olhos estavam fixos no mais ausente espaço vazio. As mãos suavam, os pés tremiam, a cabeça girava... Nunca esperara que o recebimento de sua sentença seria assim... tão tenso. Sempre imaginou, com a mais absoluta certeza, que a resposta seria positiva, e foram pouquíssimas as vezes que uma reprovação lhe passou pela cabeça. Porém agora toda aquela certeza tinha ido embora, empurrada pelos pensamentos pessimistas.

Só conseguia imaginar sua mãe aos prantos com a noticia.... O olhar fulminante de seu pai para ele... A cara de desaprovação de seus irmãos.... Nenhum deles, nem Gabriel nem Yan, passaram por uma situação desesperada com como esta! Nenhum dos dois chegou tão perto de representar uma decepção tão grande pros seus pais... seria ele, então, a maior vergonha da família.

Ele se arrependia tanto do maldito dia que tinha feito aquela maldita droga! Se arrependia tanto da hora em que optou por fazer aquilo no lugar de seguir uma vida certa como comerciante ou como fotógrafo... Quantos não são os donos de loja bem sucedidos por aí? Quantos não são os jornalistas ganhando milhões? Mas não... aquilo não era o suficiente para ele, queria mais! E agora, o máximo que vai conseguir é um lugar na fila dos desempregados...

Havia se esforçado. Sim, se esforçara muito para não estar ali, se sentindo assim... Mas, ao que se podia ver, não foi o bastante! Tinha de ser mais. Somente assim conseguiria evitar todo essa angústia.

Mas agora era tarde. Ele sabia que nada podia fazer além de rezar para que não fosse morto pelo pai. Se bem, que talvez nem Deus tivesse força pra isso. Foi então que lembrou da promessa que fez um tempo atrás para que conseguisse obter a resposta desejada. Ele jurou subir a escadaria da Igreja da Penha de joelhos se tudo desse certo. E estava desposto a subir até com as mãos, se sua prece fosse ouvida.

E assim foi. Com a mente perdida no obscuro futuro que se seguia chegou em fim no lugar onde receberia a notícia que mudaria sua vida para todo o sempre. Parou em frente, tomou coragem e disse:

- Me vê uma Folha Dirigida, por favor?

O senhor já idoso, com uma expressão compadecida, pegou o jornal e falou:

- UFRJ, né?

O vestibulando respondeu com um sorriso torto, de quem não quer dizer que se encontra numa situação ruim e, com um gesto lento cheio de medo e incerteza, pegou o pedaço de papel que lhe era entregue.

Foi direto na lista de aprovados. Primeiro, desesperou-se para encontrar medicina. Depois, procurou, sem sucesso, seu nome por toda a coluna... sem sucesso! Desesperou-se novamente. Até que, então, descobriu que havia uma segundo parte. E lá estava o seu nome.



Por Derek

2 comentários:

Anônimo disse...

O problema é se nem na segunda página estiver.. Abraço

Amélia Losada disse...

Derek Carente,

O texto tá ótimo, viu?
Você fica se diminuindo a toa!

;)